Thaís Monait Neris de Oliveira passa nesta segunda-feira (20) por julgamento no Tribunal Popular do Júri, que julga crimes dolosos contra a vida, no Fórum Criminal de Teresina. Ela é acusada de participação na morte do cabo do Bope Claudemir de Paula Sousa, em dezembro de 2016.
Em depoimento, ela negou que tenha participado do crime, dizendo que foi envolvida no crime por "gostar de pessoas erradas", por estar no local com o namorado, Francisco Luan, também acusado de envolvimento no crime.
O julgamento teve início por volta das 10h e Thais Monait, que está grávida, está presente no julgamento, sendo acompanhada por uma defensora pública. O juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Antônio Nollêto, preside a sessão de julgamento.
A família da vítima, que foi ao Fórum, não foi autorizada a acompanhar o julgamento presencialmente, que está sendo transmitido online pelo Tribunal de Justiça. Pedindo pela punição dos acusados, Carlienne de Paula, irmã de Claudemir, lamentou a saudade e a ausência de condenação após cinco anos do crime.
"Vivemos a expectativa dessa primeira condenação depois de quase cinco anos do assassinato do meu irmão. A polícia investigou e identificou essa quadrilha que foi organizada pra matar o Claudemir. Queremos acreditar que hoje será a primeira de todas as condenações. Todos os dias sentimos a saudade e a injustiça. Sei que a saudade nunca vai passar, mas a injustiça precisa chegar ao fim", declarou.
Thaís é ré no processo, acusada de ser responsável por monitorar os passos do cabo e ter dado o sinal do momento que ele saiu da academia para o atirador. Além dela, outros sete foram acusados do crime.
Três deles morreram vítimas de homicídios em diferentes situações: Weslley Marlon Silva, Igor Andrade Sousa e Flávio Willame da Silva (leia mais ao fim da reportagem).
Depoimento da acusada
Thais começou a ser ouvida por volta das 12h30, após depoimento das testemunhas, e disse que estava em casa no momento do crime. Momentos antes, segundo ela, estava em um trailler próximo ao local do crime, por trás da academia, de forma que, segundo ela, não seria possível apontar aos executores quem seria a vítima a ser assassinada.
Ela negou que tenha participado do crime, dizendo que foi envolvida no crime por "gostar de pessoas erradas", por estar no local com o namorado, Francisco Luan, também suspeito de envolvimento no crime.
Segundo ela, um dia antes, ela descobriu que o namorado estava conversando com outra mulher pelo celular e suspeitou de traição. No dia do crime, ela teria ido ao trailler por trás da academia por insistência do namorado, que queria esclarecer a situação.
"Se eu errei por por gostar das pessoas erradas, mas não era eu lá, não tenho nada a ver com esse crime, não fui eu que apontei quem era essa pessoa. Eu fui lá com meu namorado, por volta das 19h30 deixei ele em casa, passei na casa da minha tia e fui para casa", disse.
Ela disse que apenas no dia seguinte soube que o nome dela estaria envolvido no caso e pediu aos pais que ligassem à polícia para que ela se apresentasse.
"Eu me apresentei porque não estava devendo nada. Foram atrás de mim porque a namorada do Luan estava envolvida, mas não sei [se ele estava envolvido]", disse.
"Tenho a consciência limpa, eu sei, Deus sabe, que não matei ninguém não apontei, seria incapaz de fazer isso, tirar a vida de alguém", disse ela ainda no julgamento.
A defesa da ré alegou que não há provas cabais que Thaís Monait estava no momento do crime, até porque não havia necessidade, visto que os executores possuíam muitas informações da vítima. A Defensoria Pública apresentou o depoimento de uma das testemunhas que alega não reconhecer Thaís Monait no local.
Testemunhas ouvidas
Fernando Cardoso, policial militar, amigo da vítima e que realizou a prisão de acusados do crime logo após a morte do cabo, foi o primeiro a ser ouvido.
Ele informou durante depoimento que Thais foi apontada por outros suspeitos como uma das envolvidas, tendo sido responsável por indicar aos executores quem era a vítima a ser assassinada.
Ela teria ainda sido vista em vídeos de câmeras de segurança com o namorado, Francisco Luan (também acusado de envolvimento na morte), momentos antes do crime, em locais onde o cabo estava, nas proximidades da residência do policial e da academia onde ele foi morto.
Eles estariam monitorando os passos da vítima para indicar o momento exato para que ele fosse assassinado.
Francisco Carlos Pereira dos Santos, policial civil que participou da investigação e da prisão de suspeitos do caso, deu depoimento semelhante, indicando que ouviu dos outros suspeitos que Thais seria a "olheira" e teria dado a "ordem" para o momento da execução do cabo Claudemir.
O cabo Eriosvaldo da Silva Abreu, policial militar, informou que conhecia a acusada e é amigo do pai de Thais, também prestou depoimento. Ele disse que ajudou no momento em que Thais resolveu se entregar.
Os três informaram que em depoimentos anteriores Thais confessou participação no crime. E os três negaram que ela tenha sido torturada para confessar a participação.
Maria Francisca Feitosa de Oliveira, foi a última testemunha a ser ouvida, os outros convocados não compareceram e não foram localizados. Ela é avó de uma das filhas de Thais (ela possui dois filhos e está grávida do terceiro) e disse não ter conhecimento de detalhes do envolvimento da acusada no crime.
Prisão decretada
A Justiça piauiense decretou a prisão preventiva de Thais Monait Neris de Oliveira, três dias antes do julgamento, depois que Thaís não foi encontrada no endereço informado na justiça e não pediu autorização para se ausentar de Teresina. Ela estava morando no Distrito Federal há cerca de um ano, segundo a família.
Ela foi presa, pela primeira vez, dois dias depois do crime, ao se entregar. Em janeiro de 2018 teve a prisão revogada e teve medidas cautelares impostas.
No entanto, em abril do mesmo ano teve novamente a prisão decretada depois de ser presa suspeita de assalto na Zona Leste de Teresina. Em junho de 2020 foi novamente posta em liberdade por excesso de prazo.
Há três dias, teve a prisão preventiva decretada por novamente descumprir as medidas cautelares impostas.
“A acusada não foi localizada no endereço constante dos autos (...). De acordo com a certidão do Oficial de Justiça, a avó da acusada informou que ela estaria residindo no estado do Goiás há mais de um ano. Inclusive, dentre os documentos pessoais da denunciada, juntados pela Defesa consta ‘Caderneta da Gestante’ de Brasília-DF, em nome de Thaís Monait Neris de Oliveira. Dessa forma, é possível constatar que, de fato, a acusada ausentou-se definitivamente do município de sua residência, sem a devida autorização deste Juízo, nem comunicou sobre a eventual mudança de endereço, descumprindo, portanto, compromissos assumidos quando da concessão da liberdade provisória”, destacou a decisão judicial.
Morte de policial tem quase cinco anos
A morte do cabo Claudemir de Paula Sousa completa cinco anos em 6 de dezembro de 2021. Até o momento, nenhum dos acusados foi julgado. Deles, três morreram e outros cinco tiveram seus julgamentos adiados e respondem pelo crime em liberdade, após terem sido presos e terem apresentado recursos.
Flávio Willame da Silva, 33 anos, foi morto com dez disparos de arma de fogo, em 11 de dezembro de 2020, no Centro de Teresina. Outro acusado, Igor Andrade Sousa, 22 anos, morreu no dia 7 de fevereiro de 2020, após cerca de seis meses em recuperação por ter sido baleado em agosto de 2019.
O primeiro acusado a morrer foi Weslley Marlon Silva, segundo a polícia, ele foi o responsável por monitorar o policial e matá-lo a tiros. O réu foi morto durante troca de tiros com a polícia em agosto de 2018.
Restam agora os réus: Maria Ocionira Barbosa de Sousa, ex-namorada do policial e apontada como coautora intelectual do crime, Leonardo Ferreira Lima, que, segundo a polícia, foi o mandante do crime, José Roberto Leal da Silva, conhecido como Beto Jamaica, acusado de agir como intermediador.
E ainda Francisco Luan de Sena e Thaís Monait Neris de Oliveira, ambos acusados de atuar como 'olheiros'. Hoje, todos em liberdade, aguardando julgamento.
Crime encomendado
Claudemir Sousa, 33 anos, estava saindo da academia onde treinava no bairro em que morava, Saci, Zona Sul de Teresina, quando foi morto pelos criminosos.
No dia seguinte cinco pessoas foram presas, entre elas um homem que usava tornozeleira eletrônica. A investigação da Polícia Civil e do Ministério Público apontou que Leonardo Ferreira Lima e Maria Ocionira Barbosa de Sousa encomendaram a morte da vítima. Os suspeitos mantinham um relacionamento amoroso e eram parceiros em supostas fraudes ao INSS.
A peça do MP defende que, temendo que a reaproximação prejudicasse sua relação amorosa e financeira, os acusados planejaram o homicídio e ofereceram R$ 20 mil aos executores.
A negociação foi intermediada pelo acusado José Roberto Leal da Silva, conhecido como Beto Jamaica, que contratou Weslley Marlon Silva, Francisco Luan de Sena e Igor Andrade de Sousa para a execução.
A denúncia aponta ainda Thaís Monait Neris de Oliveira, que serviu de 'olheira' para avisar quando a vítima saísse da academia.