Os participantes do reality show recebem prêmios milionários depois de ter sua intimidade exposta a dezenas de câmeras e milhares de telespectadores. Tamanha exposição parece tudo o que uma subcelebridade em busca de holofotes – ou holofortes, como diria Geisy Arruda – pode querer. O resultado das três primeiras edições de
A Fazenda, reality show que reestreia nesta terça, às 23h, na grade da Record, porém, contraria essa lógica. A paralisia nas carreiras de Dado Dolabella, Karina Bacchi e Daniel Bueno mostra que, como celeiro de subcelebridades, A Fazenda é pródiga em fazer de um quase famoso... um quase famoso.
Quanto maior o tempo que separa o presente do momento da conquista do prêmio, mais apagada se torna a imagem do vencedor na memória do público que o consagrou. “Podemos comparar esse fenômeno àquelas velas de aniversário que brilham intensamente e logo se apagam. A vantagem conquistada não tem valor de médio a longo prazo”, diz José Roberto Martins, consultor da empresa GlobalBrands.
A efemeridade, no caso, é explicada pela própria rapidez com que os participantes atingem altos níveis de popularidade nos realities. Essa rapidez impede a maturação necessária ao desenvolvimento de qualquer artista e leva os quase famosos de A Fazenda a se manter na condição de aspirantes a ídolo. “São personalidades sem recursos sustentáveis para permanecer em evidência. É preciso mostrar talento para perpetuar a fama instantânea”, avalia Martins.
A notoriedade transitória também é vista com ressalvas pelo mercado publicitário, para onde ex-confinados costumam mirar, na esperança de reverter a participação no programa em ganhos financeiros. “As marcas que querem construir sua personalidade através de uma pessoa pública optam por nomes com atuação artística sólida”, diz Ana Couto, consultora estratégica de marcas. Para ela, empregar ex-participantes de reality shows em campanhas é um péssimo investimento. “As empresas conseguem apenas energizar a marca e não construir seu DNA.”
Logo que saiu vitorioso da última edição de A Fazenda, o modelo Daniel Bueno foi cogitado pela cúpula da Record para virar galã de novelas da emissora. É inegável que ele possui atributos físicos capazes de arrancar suspiros do público feminino, mas sua trajetória em teledramaturgia se resume a um curso preparatório, sem experiências anteriores. É por isso que, um ano depois de se tornar milionário, o modelo diz ainda estudar a possibilidade de trocar a moda pelos folhetins. “Há muito tempo, eu cheguei a pensar em ser ator, mas nunca levei adiante. Agora, o assunto voltou à tona”, diz.
O ator e cantor Dado Dolabella, primeiro vencedor do reality show, em 2009, apostou na conquista para alavancar sua carreira de cantor. Até então, o público conhecia Dolabella apenas dos papéis em novelas, praticamente. Seu primeiro disco, Dado Pra Você, lançado em 2003, vendeu 10.000 cópias. Mas Dado, que arranhou a imagem com seguidas acusações de agressões a mulheres, não foi muito feliz em seu intento.
Uma semana após o fim do programa, estava à venda Relax, disco de apenas quatro faixas, entre elas a canção-título, cantada exaustivamente por Dado no reality show. Produzido pela Record Entretenimento, o álbum era vendido na época em bancas a 9,90 reais, junto com um pôster do cantor e uma revista. Dado vendeu mais que no primeiro disco, mas nada espetacular: 50.000 cópias. Desde então, ele não lançou mais discos.
A atriz Karina Bacchi, escolhida pelo público para ganhar o prêmio de A Fazenda 2, também costuma ser lembrada pela mídia por conta de seus namoros e rompimentos. Suas idas à praia também são sempre registradas devido à boa forma que se esmera em manter. Mas sua projeção não passa disso.
As histórias pós-confinamento costumam se repetir, salvo raras exceções. Por isso, ainda que tenha investido em trazer um ex-participante - fala-se em Monique Evans - e numa fortuna em tecnologia HD para esta temporada, algo na faixa de 5 milhões de dólares, e dedique 2 milhões de reais ao vencedor, a Record não vai conseguir nada além de fazer de um quase famoso... um quase famoso.